Através da história, percebe-se que a humanidade apresenta baixa tolerância e/ou total incapacidade para lidar, aceitar, conviver com o diferente. Vários grupos configuraram-se como objeto alvo de preconceito, tortura, segregação. Dentre tais grupos estão: os leprosos, judeus, negros, ciganos e homossexuais.
Esta resistência, dificuldade ou incapacidade da humanidade em aceitar e conviver com o diferente foi direcionada também para o "ser louco". Foram criados dispositivos diversos com o intuito de proteger os considerados "normais", daqueles seres "impregnados" de natureza atípica, "estranha" , "periculosa", "anormal"...
Em Sobral, o modelo psiquiátrico hospitalocêntrico constituiu-se também como a forma de tratamento predominante oferecido às pessoas portadoras de transtorno mental. A casa de repouso Guararapes, criada em 1974, durante a sua existência, foi palco de diversificadas atrocidades cometidas aos seres humanos lá "coisificados". A prevalência de internamentos inadequados, os maus tratos, as cronificações compõem um deplorável cenário de uma tétrica página na história da psiquiatria do Ceará. Em outubro de 1999, a morte de um cliente naquele manicômio, suscitou sentimentos de revolta da pessoas envolvidas com a questão da saúde mental e da sociedade em geral. Com o apoio do Fórum Cearense da Luta Antimanicomial, da Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Ceará foram realizadas duas auditorias (Secretaria Estadual e Municipal de Saúde), em que outros casos de maus tratos, espancamentos foram confirmados naquela instituição. Este fato levou a Secretaria de Desenvolvimento Social e da Saúde, com base na deliberação do Conselho Municipal de Saúde, decretar a intervenção no manicômio, no dia 02 de março de 2000, por noventa dias e prorrogada por mais trinta dias. No dia 10 de julho de 2000 a Secretaria de Desenvolvimento Social e da Saúde encerrou a intervenção de 120 dias na casa de repouso Guararapes e , através da protaria de número 113, descredenciou o referido estabelecimento e constituiu a Rede de Atenção Integral à Saúde Mental do Município RAISM.
O investimento público em saúde mental no Município teve início de forma embrionária em 1996. O Programa de Saúde Mental, desenvolvido no antigo PAM (Programa de Assistência Médica), hoje denominado CEM (Centro de Especialidades Médicas), originou posteriormente a criação de um Centro de Atenção Psicossocial, o qual foi sendo estruturado paulatinamente.
Atualmente, Sobral destacou-se no cenário nacional pela Reforma Psiquiátrica realizada. Os serviços que constituem a referida RAISM são: Centro de Atenção Psicossocial CAPS NP, especializado no tratamento de pessoas com quadro de psicose, neurose, Unidade de Saúde Mental no Hospital Geral Dr. Estevam (Enfermaria e Urgência), Serviço Residencial Terapêutico - SRT, ambulatório de Psiquiatria Regionalizado no Centro de Especialidades Médicas CEM e o Centro de Atenção Psicossocial CAPS AD, especializado no tratamento de pessoas com histórico de dependências de álcool e outras drogras, o qual foi incorporado à Rede/Sobral 2000. Estes serviços buscam funcionar de forma articulada com as equipes do Programa Saúde da Família (PSF) locais, pois entendemos que a integração entre o serviço especializado e a atenção básica à saúde é fundamental na Política de Saúde Mental do município.
Em julho deste ano, Sobral comemorou quatro anos sem manicômio, configurando-se como um exemplo real de que a Reforma Psiquiátrica está longe de ser uma utopia ou um sonho ufanista, demonstrando assim que a vontade política, a ousadia e competência do Secretário de Saúde Luiz Odorico M. de Andrade e o compromisso e competência dos trabalhadores de saúde mental foram fundamentais para a grande transformação na política de Saúde Mental do Município.