Nesta última semana de março, a ECOA Sobral apresenta o “4 Femininos no Brasil”, integrando a programação dos projetos “Teatro da Terça” e “Quinta que Dança”, com obras artísticas concebidas, dirigidas e interpretadas por mulheres que são referência na dança no país.
O projeto "4 Femininos no Brasil" abre passagem para o diálogo em torno do feminino, trazendo 4 artistas de diferentes lugares do Brasil para falar de suas lutas, trajetórias e o empoderamento com o corpo através da dança e do teatro, questionando padrões corporais e culturais pré-estabelecidos como únicos e certos.
O “Teatro da Terça” (27/03), recebe Rafaela Lima (CE) com "Fruta Cor", uma dança-manifesto que questiona a objetificação do corpo feminino, apresenta-o como fruto do pecado, comestível, possível de ser invadido por olhos misóginos; e Maria Eugênia Almeida (SP-PE) com o espetáculo "Planta do pé", fazendo um questionamento sobre o posicionamento periférico que as danças tradicionais têm hoje no Brasil. Ressaltando as danças nordestinas e a relação das pessoas que dançam com essa arte. O trabalho apresenta “pluralidade gestual, recursos de agilidade e peso, tudo ressignificado em novos movimentos no meu corpo”, afirma Maria Eugenia.
O “Quinta que Dança” (29/03) apresenta Wilemara Barros (CE), que começou a dançar em uma época regida pelo modelo europeu como estética a ser seguida. Desacreditada por seu primeiro professor quando criança, seguiu transformando-se ao longo de quatro décadas em uma mestra da técnica clássica e no cenário da dança. Em "MULATA", a bailarina apresenta a delicadeza das percepções menos visíveis; e Jussara Belchior (SC), em "Peso Bruto", discute o estranhamento e preconceito que vive por ser uma bailarina gorda. Os espetáculos trazem narrativas femininas necessárias à reflexão.
O FEMININO EMERGENTE: quatro movimentos de ser e estar na arte
Texto exclusivo de Ângela Linhares
Fazer arte é estranhar o que parece óbvio e nunca foi. E vem como por uma estrela caída. Assim o feminino se diz na arte: anda por caminhos sinuosos, doces, mas veementes e inconclusos. Feito um animal faminto, o feminino caminha pela arte como seu lugar próprio de dizer-se. Por isso: é que ele é fecundo como a eterna novidade das coisas. E faz estranhar o que secular e repetidamente se impôs como domínio sobre a mulher. Ao mesmo tempo, além de desvelar opressões, quando diz do feminino, a arte antecipa futuros, trazendo os encantamentos do ser e estar com os outros no diverso.
Que a vida tem esse acorde múltiplo e vários que também é deslumbre. Ora, a arte pega no ar o vir-a-ser do feminino – e daí mostra também o que as coisas do mundo poderiam ser e (ainda) não são. Nessa pesca, já se está reinventando o que se tem como real hoje. Com isso, o futuro habita o instante. Pois é. Mágica? Arte. Os novos lugares da formosura; os achados e perdidos da arte popular; a estética do que se dera por esquecido e agora se veste no novo, pondo em suas dobras o que a vida oferta como sentido emergente... Nesse esconde-aparece do signo da arte, o dizer se torna exercícios de ver e estar no mundo.
Mas o surpresivo na arte, quando diz do feminino, fica com quem a recolhe e a desfruta. É que se nutre no generoso colo da criação do novo, mãe das águas velhas e novas que viajam na Terra; e das promessas de felicidade (promesse de bonheur, como dizia Benjamin), que o diálogo entre gerações traz de lambuja. Olha!