Com casa cheia, o Theatro São João recebeu, na noite desta quinta-feira (19/05), o pré-lançamento social do filme "Pureza", de Renato Barbieri, com Dira Paes no papel principal. O evento foi realizado por meio de articulação entre a Coordenadoria dos Direitos Humanos da Secretaria dos Direitos Humanos e da Assistência Social (Sedhas) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), com apoio da Secretaria da Cultura e Turismo (Secult).

Pureza é um drama biográfico sobre a busca de Pureza Lopes de Loyola pelo filho, Abel Lopes, vítima de uma rede de tráfico escravo, nos anos 1990, na região amazônica. Após o filho desaparecer, Pureza segue o rastro do filho e acaba encontrando uma rede de trabalho escravo. Ela se infiltra na fazenda e começa a colher provas para expor a situação de escravidão.

Após a exibição do filme, o coordenador dos Direitos Humanos, Chiquinho Silva, mediou um debate com os atores João Gott e Goretti Ribeiro, e a participação de Luciana Rabelo, da Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae/CE), da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS); Ismael (preservaremos o sobrenome para garantir o sigilo), um trabalhador da região Norte do Ceará, que foi cooptado e trabalhou em situação análoga à escravidão no Paraná. O momento também contou com a participação de Frei Xavier, da Comissão Pastoral da Terra; do procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Leonardo Holanda, e do representante da CPT Ceará, Claudiano Sobral. O público presente ao Theatro pôde apresentar dúvidas e questionamentos aos debatedores.

Um dos expositores, o procurador do MPT Leonardo Holanda destacou, em sua fala, o desmonte das políticas públicas para o combate ao trabalho escravo. “Estamos vivendo um retrocesso enorme [por exemplo], na cadeia da extração da palha da carnaúba. No final do ano passado, houve resgates [de trabalhadores da região]. O setor voltou a ficar degradado”.

Já Ismael, o trabalhador resgatado recentemente no Paraná, falou sobre a necessidade de estar atentos para “não se meter em qualquer trabalho”. Ele afirmou que foi levado à situação de trabalho escravo por uma pessoa conhecida.

A atriz Goretti Ribeiro destacou que “foi um presente como atriz, como pessoa, fazer [parte de] um projeto tão relevante. O filme é um trabalho questionador e transformador. Como pessoa, hoje procuro saber mais sobre esses acontecimentos, pois é nosso dever como brasileiro ficar a par do que está acontecendo no país”. Goretti vive no filme uma trabalhadora do sexo, que ajuda Pureza a se infiltrar no mundo do trabalho escravo.

Já Frei Xavier (CPT), em uma breve fala, destacou o sentido da escravização do homem pelo homem. Ele relembrou a história bíblica do assassinato de Abel por Caim, quando Javé (a divindade) pergunta: “Onde está o teu irmão?” ou “O que fizeste?”. Xavier também falou sobre a capacidade de se indignar. Sacerdote francês, ele veio para o Brasil em 1983, trasladando o corpo de Frei Tito de Alencar, padre cearense vítima de tortura na época da Ditadura Militar. Xavier está no Brasil desde então e é uma referência para o combate ao trabalho escravo.

Participaram do evento, servidores públicos das diversas secretarias municipais, membros do Ministério Público do Trabalho (MPT), comissões dos municípios de Marco, Martinópole, Granja (municípios com situações recentes de trabalhadores libertos de situações análogas à escravidão) e Jijoca de Jericoacoara, comunidade quilombola de Pacujá, comunidade quilombola de Jardim (Patriarca), povos de terreiro, representação do Instituto Teias da Juventude (ITJ) e Comissão Pastoral da Terra (CPT).

 
 
 

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